Por meio do projeto MobCidades, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e a Rede Cidades por territórios justos, democráticos e sustentáveis, em parceria com o RUAS, promoveram uma série de encontros, debates e capacitações para pensar em territórios justos, democráticos e sustentáveis.

Um dos objetivos desta mobilização foi a construção de uma campanha para sensibilizar e engajar o poder legislativo e a sociedade em geral na pauta do transporte como direito social, dando luz à necessária regulamentação do artigo 6º da Constituição Federal.

Diante disso, este coletivo optou por avançar ainda mais e realizar um processo publicitário e de comunicação de forma conectada aos seus propósitos políticos e sociais. Através de uma metodologia que englobou formação, vivência e produção, surge a Campanha “Próxima Parada: Embarque por Direitos”.

O processo criativo

Durante o processo, desenvolveu-se uma metodologia que englobou formação, vivência e produção publicitária. A Rede Urbana de Ações Socioculturais, as Brigadas Populares, com apoio Inesc e Movimento Passe Livre (MPL), formou jovens da periferia do DF na área de Comunicação, com foco em Direitos e Mobilização Social e, partir daí, surgiu a campanha “Próxima Parada: Embarque por Direitos”.

Reunimos jovens de diversas regiões administrativas do Distrito Federal durante três finais de semanas, em modalidade de imersão, em um ambiente de aprendizado e troca de saberes. Vivenciamos uma experiência diferenciada em relação ao modo de produção hegemônico da área da publicidade desenvolvido em agências, propiciando um ambiente de convivência, criativo e formativo.

Foi neste contexto que se desenvolveu a identidade criativa da campanha que segue agora seu curso junto com os coletivos que originaram este movimento.

Segue um breve relato do Jovem Vinicius Remer, jornalista e participante do coletivo DUCA (Departamento Urbano de Comunicação e Arte) sobre sua experiência durante todo o processo de imersão:

Imersos para criar e revolucionar

A criação de uma campanha dentro de uma agência envolve diversos processos, segue suas próprias lógicas, suas etapas e seus fluxos de trabalho. Estar imerso para criar um conceito é subverter essas ordens conhecidas, é criar algo novo fazendo algo novo. Reunir pessoas diversas e com diferentes vivências é desafiador, mas ao reuni-las para trabalharem juntas e com um objetivo em comum é inspirador. Separar três finais de semana para que um grupo se reúna e crie algo novo pode ser estranho para quem está acostumado com os mesmos processos. Mas, para nós, é apenas revolucionário!

Agora, incluindo-me neste grupo de pessoas ousadas, criativas e dispostas a subverter lógicas, eu, Vinícius, escrevo em sintonia com elas. Ao pensar numa identidade que simbolize a regulamentação do transporte público como direito social, não só vivemos o dia a dia dentro de ônibus lotados e metrôs, como sabemos que a ausência de direitos sociais afeta consideravelmente nossas vidas. Mesmo tendo tanta propriedade para falar do assunto, ainda ficamos reunidos três finais de semana numa chácara no Distrito Federal para nos aprofundar ainda mais no tema.

Aprendemos com o Movimento Passe Livre (MPL), lemos artigos do geógrafo Milton Santos, interpretamos diferentes atores sociais envolvidos na relação transporte público e sociedade, elencamos as problemáticas, as qualidades e os desafios do tema para nós e para o grupo que queríamos atingir com a campanha. Além de submergir no tema, houve tempo para emergir, de viver a experiência de estar imersos para respirar outros ares.

Houve tempo para o que é fundamental para nós: o afeto. Muito mais que pessoas reunidas pensando em um único propósito, nos abraçamos. Sentamos em volta da fogueira, nadamos num lago, caminhamos pelo mato, comemos uma alimentação saudável e vegetariana, jogamos bola, quebramos o pé, fizemos yoga, fizemos massagem, choramos e rimos. Subverter pelo afeto, pela vivência, pelo coletivo, pelo bem comum, é, outra vez, revolucionário!

*Participaram do curso e da elaboração do conceito da Campanha 11 jovens, moradores/as das periferias do DF, usuários/as do transporte público, integrantes de alguns movimentos no DF: DUCA, Levante Popular da Juventude, UJS e Coletivo Filhas da Terra.